Fragmentos de mais um Convívio de Primavera
Cheguei numa sexta chuvosa e fria o que me provocou um ataque de tédio. O tempo convidava mais á leitura e á doce monotonia do nada fazer. Mas não...indiferente aos contratempos próprios estava na hora de conversar...estava na hora de rever pessoas e mandar o tédio á fava. Após café em família na Pastelaria da Susana rumei então ao Bem Tirado, local mítico de encontros comensais e bebianos que neste dia é frequentado por bárbaros oriundos de Norte e Sul reunidos com planos estratégicos para a batalha do dia seguinte. Aos poucos a mesa redonda foi tomada de assalto e perante a fadiga e o longo caminho percorrido impunha-se agora saciar a fome ás hordes.
Chamou-se á mesa El Inverniço que aconselhou um leitão estaladiço.
- Sacrilégio - gritou um dos bárbaros.
- Que mais tendes para oferecer vil criatura? - indagou outro das bandas da Gardunha.
Pouco havia para oferecer (sinais dos tempos que decorrem). Perante a situação de carência foi-nos trazido á mesa algo frito e albardado com sabor a bacalhau (?). Não saciados com a iguaria apresentada levanta-se um bárbaro da mesa e sai...regressa acompanhado de umas latas de uns peixes variados que são tomados de assalto e logo devorados. Neste dia a tradição recria a condenação á morte de Jesus o Galileu...e mais uma vez, membros do clã depois de saciados, escutam o sermão do encontro, em silêncio (!) acompanham até ao Calvário Jesus, São João e a Senhora das Dores...o frio que se faz sentir lá no alto não os demove e escutam o sermão da crucificação.
É hora de descansar pois o dia que se avizinha é uma nova batalha pela frente.
O sábado acorda primaveril prevendo o assalto ao castelo de Sir Mendonça facilitado.
Reunidos novamente na estalagem do Inverniço e após um brinde breve seguimos religiosamente por caminhos outrora percorridos. Entre a relvinha e a lavandeira já alguns bárbaros teimavam em descansar e retirar alguma roupa. No caminho do Bairro Alto encontrámos um bárbaro trovador de nome Acácio que dizia possuir um néctar de se tirar o chapéu...declinámos o convite que ficou para outra altura.
Já com o castro á vista e com visíveis sinais de fumo, outra paragem para a ultima e mais difícil subida.
Eis-nos chegados...Sir Mendonça tem já a fogueira acesa, os cães continuam a ladrar...calam-se perante a ordem do dono. Está na hora de provar e aprovar o famoso néctar...soberbo...bruto....com aromas ventosos e alcalinos próprios da serra.
Sir Pechincho depressa ataca um belo bacalhau seguido de Sir Risas e Sir Orlindo. O néctar continua a deslizar por gargantas ávidas e sequiosas culpa do bacalhau salgado. A tarde é de Primavera e convida ao convívio. A vista abrangente faz-nos reflectir....não damos conta da beleza que nos envolve...somos demasiado materialistas. Após o primeiro assalto impõe-se um caminhada por veredas ingremes e estreitas até á famosa água santa em que todos se refrescam.
Com a fogueira já mortiça é tempo de por bastante lenha pois os enchidos esperam a sua vez de ir para a grelha. Alguns bárbaros comunicam com outros dos castros de Seia, Almeida e Guarda que não puderam estar presentes...outros não sei se derivado ao poder do néctar tentam algumas variações musicais...outros procuram pistas do Viriato...os mestres definem planos para o encontro de Agosto...será que o Viriato andou por Bogas de Baixo e pela Serra do Açor?
Aos ausentes um abraço e até Agosto
Apesar de presente no castro das Lamas faltou ao convívio Sir Nuno o pajem da Ordem.
Viva a OCG
Zé Robalo